Ecos do mundo
R$ 99,90
- Disponível: Em estoque
- Editora: Carambaia
- ISBN: 9788569002611
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Centro-Oeste, Norte e Nordeste de 10 a 15 dias
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Conhecido mundialmente como um mestre do romance, Eça de Queiroz (1845-1900) atuou em outros gêneros, entre eles a crônica jornalística. Parte de sua colaboração em periódicos trata de assuntos internacionais, valendo-se do conhecimento do escritor como diplomata. A CARAMBAIA lança uma seleção desses textos em Ecos do mundo, organizada pelo escritor, tradutor e editor Rodrigo Lacerda, que assina também a apresentação. Os artigos se alternam entre observações espirituosas de costumes, análises detalhadas do xadrez geopolítico da época, reflexões sobre tendências intelectuais e artísticas em Londres e Paris e narrações que beiram a escrita ficcional.
O Brasil ocupa a primeira parte de Ecos do mundo – título inspirado na coluna “Ecos de Paris”, publicada no jornal carioca Gazeta de Notícias, periódico em que se deu a mais longa colaboração jornalística de Eça (1880 a 1897). Em nove crônicas, fica evidente que o escritor via o Brasil com simpatia, sobretudo quando comparado a Portugal. Na provocadora crônica “O brasileiro”, que se refere aos portugueses que vêm morar no Brasil e retornam, Eça é taxativo: “Nós somos o germe, eles são o fruto: é como se a espiga se risse da semente. Pelo contrário! O brasileiro é bem mais respeitável, porque é completo, atingiu o seu pleno desenvolvimento; nós permanecemos rudimentares”.
Isso não quer dizer que o Brasil e os brasileiros sejam poupados da célebre ironia de Eça. Uma crônica descreve a confusa figura de D. Pedro II viajando pela Europa, sem saber se é imperador ou cientista – e sem convencer em nenhum dos papéis. Outra narrativa descreve e comenta o pandemônio provocado por estudantes durante a passagem da diva dos palcos Sarah Bernhardt pelo Rio de Janeiro.
Nas demais partes do livro, estão reunidos artigos não só sobre os lugares em que Eça morou, Inglaterra e França, mas também sobre a Itália, a Turquia, a China, a Tailândia e outros países, a maioria deles enredados em conflitos internos e externos. Eça escreve sobre alterações radicais no tabuleiro internacional, como a unificação da Itália e o desmoronamento do Império Otomano. Ao apresentar a seleção, Rodrigo Lacerda afirma que “o mundo em que Eça de Queiroz escrevia era ao mesmo tempo muito diferente e muito parecido com o nosso”. Se por um lado o autor discorre sobre o fim de diversas monarquias, também vislumbra as forças emergentes dos Estados Unidos e da China.
De seus postos de observação na segunda metade do “século escrevinhador”, quando os jovens “sofrem dessa posição ínfima e zoológica a que a ciência reduziu o homem”, Eça desenha um panorama que se estende para o passado e o futuro. Numa crônica sobre o esmaecimento da importância política e histórica da Revolução Francesa, lembra que na sua infância os eventos de 1789 ainda pareciam muito próximos na memória coletiva. E em “A perseguição dos judeus”, relata o preâmbulo dos acontecimentos dramáticos na Alemanha do século XX.
O projeto gráfico de Ecos do mundo, de Mayumi Okuyama, se inspira nas implicações da palavra “eco” e se estrutura na ideia de pontes e ligações, relacionadas à reunião de textos de diversas publicações que apontam para o passado e o futuro. Encadernado em capa dura, o volume traz o título serigrafado e repetido, como um eco, em seis camadas de tinta.
José Maria de Eça de Queiroz nasceu em Póvoa do Varzim, norte de Portugal, de pais que não eram casados – só o fariam quatro anos depois. Essa situação, escandalosa para a época, talvez tenha contribuído para a visão profundamente crítica à moral da classe média portuguesa que o escritor imprimiu à sua obra. Eça ingressou aos 16 anos na Universidade de Coimbra, de onde saiu formado em Direito. Nesse período reuniu-se a outros jovens literatos, como Antero de Quental, que formaram o grupo conhecido como a Geração 70. Mudou-se para Lisboa, seguindo uma carreira de jornalista que continuaria em Évora e em sua volta para a capital. Em folhetins e na poesia, havia até então sido um adepto do Romantismo. Contudo, na volta a Lisboa, tomou parte no grupo de intelectuais conhecido como “O Cenáculo”. Sob a influência do escritor Gustave Flaubert e do teórico anarquista Pierre-Joseph Proudhon, aderiu ao Realismo.
Em 1870, publicou, em parceria com Ramalho Ortigão, o romance O mistério da estrada de Sintra. No mesmo ano ingressou na carreira diplomática e, dois anos depois, assumiu o posto de cônsul em Havana – seguida por cidades europeias. Em 1895, sob a influência do Naturalismo, publicou o romance O crime do padre Amaro, que provocou protestos da Igreja e de setores da sociedade. Três anos depois, O primo Basílio teve recepção semelhante, apesar do sucesso de vendas. Em 1888 saiu Os Maias, romance considerado sua obra-prima. Parte da extensa obra do escritor, como o romance A cidade e as serras, veio à luz postumamente. Eça, que deixou quatro filhos, morreu em Paris, de tuberculose.